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Carta aberta aos colegas da Unicamp

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Prezados Colegas,

Eu deveria dizer que estou chocado com a atitude da Embaixatriz Roseana Aben-Athar Kipman, especialmente por tê-la conhecido de perto e trabalhado com ela no Centro Cultural Brasil Haiti, o mesmo local em que ela se negou a prestar apoio a vocês.

A verdade, no entanto, é que esta atitude e as coisas que ela pode ter dito sobre o Haiti e os haitianos em nada me espantam. E como os colegas disseram, sinto-me envergonhado por ela.

A descrição feita na postagem anterior corrobora perfeitamente com aquilo que presenciei ao longo do tempo que permaneci junto à Embaixada do Brasil no Haiti. E o tal assessor Paes Leme, pelo visto, está apenas cumprindo seu papel de tapar um buraco e encobrir uma ação para mais de vergonhosa de pessoas a quem eu mesmo recomendei que os colegas procurassem, imaginando que através da Embaixada, do Embaixador Igor Kipman e de sua esposa, tivessem a acolhida obrigatória devida a todo brasileiro que se encontra no exterior.

Ontem, ao conversar com amigos que estão no Haiti, confesso ter ficado tenso e envergonhado ao saber que a ordem dada pela embaixada era de impedir o acesso dos alunos da Unicamp e do meu amigo Pedro Braun, como eu pesquisador do Museu Nacional. Não conseguia entender qual era o princípio que governava tal atitude. Perguntava-me por que o Embaixador e Embaixada do Brasil estão fazendo isso?

Fiquei imaginando as cenas de filmes como "Killing Fields", quando os cidadãos estadunidenses acorreram à sua Embaixada Nacional, deixando de fora milhares de cambodjanos desesperados.

Cortei a imagem e transferi para a nossa embaixada no Haiti, negando a cidadãos brasileiros o mínimo de apoio que estes solicitavam: um local seguro para dormir enquanto decidiam o que fazer diante do quadro aterrador moldado por este terremoto.

Novo corte, e retorno a cena, descrita como "debochada" ou como "fofoca de blog" por um assessor mal informado, que tem a obrigação de defender o indefensável, posto que a cena se desenrolasse diante de uma dúzia de testemunhas, além do grupo de pessoas do grupo da Unicamp, parte interessada. Neste novo corte revejo a Embaixatriz Roseana cercada por 4 ou 5 fuzileiros, armados com pistolas 9 mmm e duas sub-metralhadoras, depois de atravessar a cidade numa Nissan Patrol Blindada, bem vestida com seus cabelos presos num coque para trás, ostentando uma grossa corrente de ouro no pescoço.

Não, não posso duvidar dos colegas da Unicamp. Com todo respeito, de quem pôde conviver com a Embaixatriz Roseana, é o que vejo. E fico envergonhado, porque fui eu mesmo quem confiou meus amigos pesquisadores a ela, de quem eu não esperava uma ajuda baseada privilégio da amizade, que ela tantas vezes exaltou que devotava a mim, mas o simples cumprimento dos direitos destes cidadãos brasileiros.

Estou triste, envergonhado e decepcionado.

Peço aos meus colegas da Unicamp desculpas por ter-lhes sugerido que entrassem em contato com a Embaixada. E junto ao meu pedido de desculpas vai també o pedido de minha colega e amiga Normelia Parise, diretora do Centro Cultural Brasil Haiti, que se empenhou no sentido de possibilitar que eles pudessem ser atendidos pela Embaixada, e simplesmente relatou-me não conseguir entender o que se passava naquele momento, pois não conseguia entender como numa situação como aquela pudesse haver algum tipo de atitude mesquinha e leviana como aquela assumida pelo comando de nossa Embaixada no Haiti.

Abraços do colega,

José Renato Baptista

Antropólogo, Doutorando em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ


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